Aquele casal parecia feliz

Pedro Bomfim
2 min readJan 4, 2022
Imagem: Britannica/Reprodução

Encontrei alguns textos escritos no já longínquo ano de 2015. Salvo algumas alterações ortográficas, este é o primeiro deles, na íntegra. Alguns mais curtos, outros mais longos, todos saídos de um rapaz de 18 anos já desiludido com a existência.

Sua saia florida era a representação material de uma dança da primavera, cujas folhas e flores esvoaçavam conforme a movimentação e a força do vento. Essa sequência de movimentos lembrou um pequeno jardim, exposto ao sol do meio-dia e aos perigos das passadas humanas. Será que seu jardim sofreu com muitas pegadas inconsequentes? Será que suas próprias pegadas já deixaram marcas permanentes não só em outros terrenos, mas em seu próprio? Que cicatrizes aquele solo esconde por dentro da profunda couraça terrosa?

O sorriso dele complementava a paisagem com um leve toque sincero de vermelho. Aquela cor tão forte e apaixonante estava representada na cena como um simples detalhe. Não expressava o sangue, a paixão nem o fogo, só mostrava a sinceridade. Talvez, no âmago dessa sinceridade, esses elementos estivessem presentes, mas como meros coadjuvantes. Mesmo escondidos, talvez fossem como a tenra troca de olhares que sucediam pequenas porções de conversas, dessas que são esquecidas minutos depois, mas que constituem uma boa cumplicidade.

E do mesmo jeito que apareceram, se foram. Cada qual carregando suas raízes, que pareciam interligadas e fortes. Será que as flores desse jardim misto desabrochariam no futuro, ou dariam lugar a outras pegadas lamacentas? Ou, talvez, além de pegadas e botões primevos, essas flores se transformem em fragmentos de pétalas cujo significado para os que os observam será para sempre um segredo.

--

--

Pedro Bomfim

Morto por dentro, nada mais do que um fantasma de comentários pungentes.