45 anos de Chester Bennington

Pedro Bomfim
4 min readMar 20, 2021

Chester Bennington completaria 45 anos hoje, 20 de março de 2021. É difícil achar alguém que tenha entre 20 e 30 anos que não conheça o cantor da banda Linkin Park, dado que ela foi um fenômeno mundial ao longo dos anos 2000 e manteve a qualidade na década seguinte. Tomo emprestada essa data para fazer uma singela homenagem, considerando que a banda em questão esteve presente na minha vida desde sempre.

Antes de o YouTube ser um hit palpável, alguns de nós — uso essa construção com o objetivo de relembrar aos queridos contemporâneos esses tempos nostálgicos — acessávamos vídeos e afins por meio de buscadores na internet, como o Yahoo. Sendo crianças ou pré-adolescentes crescendo em solo brasileiro no início dos anos 2000, a conexão era ruim, para dizer o mínimo, e um vídeo podia custar uma tarde inteira de diversão.

Mesmo assim, às vezes você topava com um e não podia aguentar de curiosidade. Por exemplo, os vídeos de animes, como Naruto e Dragonball, colocados com músicas de fundo para criar montagens apelativas (os AMV’s, como ficaram conhecidos). Muitos desses vídeos contavam com músicas do Linkin Park; ouso dizer até que eles contribuíram um pouco para a popularização da banda, pelo menos aqui em terras tupiniquins.

Julgo que foi assim que eu e muitos outros acabaram por conhecer a obra prima do rock alternativo que foi a banda. Claro que, neste primeiro momento, não ligávamos tanto para as letras da música, mas, desde então, talvez algo já nos dissesse que aqueles gritos agoniados significavam mais do que aparentavam. O que me leva ao motivo de escrever esse texto ao invés de escrever meu projeto de pesquisa (desculpe, Sandra).

Chester Bennington cometeu suicídio em julho de 2017. Conhecendo um pouco sobre a vida do cantor, fica claro que ele enfrentou uma batalha duradoura e agonizante contra a depressão, potencializada pelas memórias dos abusos que ele sofreu quando criança. Suas composições, depois desse acontecimento, passaram a significar, para os outros, o que sempre significaram para ele — uma tentativa de lutar contra aquilo que o atormentava.

Eximo-me de usar o chavão demônio interior, tantas vezes aplicado em conversas casuais e afins para designar o sofrimento psicológico. Não é um demônio que vive dentro de quem é acometido pela doença; é, sim, um problema, só ele não tem nada a ver com supostas entidades maléficas do sobrenatural. É uma condição, muitas vezes debilitante, que, numa analogia mais certeira — a meu ver, claro –, pode ser vista como uma sombra. Uma sombra com potencial de engolir a fonte que a produz.

Mesmo com todo o apoio, mesmo com todo o dinheiro — sim, estamos em 2021 e ainda há a noção ridícula de que as pessoas não podem ter depressão porque são famosas, tem dinheiro e afins -, a sombra de Chester o engoliu. É profundamente melancólico saber que outra pessoa com depressão perdeu essa guerra e que, um dia, pode ser a minha vez de perder também. Ou então a vez de algum amigo próximo, ou mesmo um familiar.

O estopim da minha tristeza aconteceu, não por acaso, em julho de 2017. Pouco antes do vocalista da minha banda favorita se matar. Na época, eu emagreci 13 quilos, mal levantava da cama e não queria conversar ou sequer olhar para os outros. Mesmo assim, encontrei uma disposição cambaleante para chorar no dia de sua morte, afinal, uma voz tão próxima e tão poderosa, que me manteve inteiro, mesmo que por pouco, havia perecido.

Aquelas lágrimas foram mais genuínas do que muitas coisas que eu havia sentido à época. Os filetes mornos me lembraram que eu ainda estava vivo — debilitado, sim, mas com coração pulsante — e que, por mais que aquela voz tenha deixado este mundo, ela ainda viveria nas gravações e no coração dos milhões de fãs ao redor do globo.

Quantos Chester Bennington’s ou Robin Williams’s andam por aí, não anunciados e com sorrisos sutilmente abatidos? Até quando vai ser necessário enfatizar a necessidade de acompanhamento psicológico e psiquiátrico? Quando é que vão entender que nada disso é frescura? Enfim, estes são só alguns dos questionamentos necessários no nosso mundo que, infelizmente, estão atingindo cada vez mais pessoas de cada vez menos idade.

Espero que onde estiver, se é que está, esteja em paz, Chester. Sua música ajudou e ajuda muitas pessoas — se eu conseguisse desejar algo, seria para que ela pudesse ter te ajudado também.

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Pedro Bomfim

Morto por dentro, nada mais do que um fantasma de comentários pungentes.